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A Redenção de Johan - Parte Final

Haviam se passado quase 10 anos, era óbvio que a vida dela havia mudado, foi de guerreira em treinamento à Marechal do exercito da Aliança, um avanço invejável. Se tudo isso mudou, porque uma outra família, uma outra pessoa seria tão difícil de ser verdade?


A resposta era clara... não seria, e então comecei a me achar um idiota. Como não havia pensado nessa possibilidade? Talvez porque todo o tempo que passei sob o domínio do Lich Rei não me dava muita noção do tempo realmente. Demorei para acreditar no ano em que estávamos quando nos libertamos.


A noite caiu e Arwen não voltou. Lorelyn acordou pouco tempo depois. Ela olhou atentamente em volta colocando a mão na cabeça como se ainda se sentisse tonta e então sua atenção se prendeu em mim. Ela ficou me encarando por alguns minutos e então suspirou, abaixou a cabeça e disse:


- Então não foi um sonho? É tudo verdade! – e lágrimas escorreram pelos seus olhos.


Não sabia o que dizer... nem sabia se deveria dizer alguma coisa ou apenas esperar até que tudo se encaixasse na sua cabeça, mas vê-la daquele jeito...


- Lorelyn, eu... eu estou livre, eu não sou mais um servo sem controle, não sou mais um soldado do Flagelo. Sou um guerreiro livre agora e vim trazer ao rei uma carta do próprio Tirion Foldring para que eu possa servir à Aliança.


Neste momento ela ergueu a cabeça com os olhos úmidos e pareceu prestar mais atenção no que eu falava, então resolvi continuar.


- Nos rebelamos contra o Lich Rei com ajuda de Tirion, o que deveria ter sido uma emboscada acabou tendo um efeito reverso. Varian nos aceitou na Aliança. Eu sei que não sou o mesmo de antes, mas... estou tentando compensar os meus erros.


Lorelyn se levantou como se decidida a ir embora. Colocou sua armadura e abriu a porta, mas logo em seguida a fechou atrás de si e ficou apoiando suas costas contra a madeira, como se não fosse possível permanecer em pé sozinha. E sem qualquer a aviso começou a falar.


- Eu rezei tanto por você. Pedi tanto à Luz que o guiasse, que sua alma descansasse... Anos depois eu visitei nosso vilarejo e pra minha surpresa e horror todas as covas que tínhamos feito estavam remexidas, todas abertas e sem corpos.


A voz de Lorelyn começou a assumir um tom de soluço.


- Acho que fiquei lá chorando por horas até que Arwen me arrastou para um escombro que ainda estava de pé para passarmos a noite. Sei que ela morria de medo daquele lugar, dizia que podia ouvir as vozes daqueles que morreram pedindo por socorro e eu perguntava se ela podia ouvir sua voz. Ela respondia que não conseguia identificá-las, mas eu sabia que ela procurava por você e não o encontrava...


Eu permaneci imóvel enquanto ela falava. Era a primeira vez em anos que nos falávamos e não queria que ela parasse.


- Eu sabia, no fundo, naquela parte de mim em que eu não queria acreditar, que você tinha se tornado um deles... me arrependi tanto de não ter queimado os corpos. Por que não queimei os corpos??? Eu condenei você a essa vida! E jurei que se um dia o encontrasse novamente, eu o livraria dela.



Enquanto Lorelyn abria seu coração para mim, tudo que eu queria fazer era abraça-la, sentir sua pele quente contra a minha fria, sentir a maciez do seu cabelo e seu cheiro... seu cheiro continuava o mesmo e era único, era como perfume pra mim.


Mas o que eu poderia oferecer a ela? Um corpo frio, sombras e morte, pesadelos sem fim, um coração que não bate mais e ainda assim, uma parte de mim era puro egoísmo e só queria estar com ela, independente da condição.


- Levei muito tempo para tomar coragem e desafia-la. Acreditava que era o único jeito de chegar a você e mesmo falhando miseravelmente, eu ganhei, nós ganhamos. Eu me lembro dos momentos quando tinha acabado de ser convocado pelo Lich Rei, me lembro de levantar da minha cova e sentir muita tristeza e vazio, me lembro de olhar pra traz e ver um galho com seu colar e de guarda-lo comigo. Eu o tenho até hoje.


- Lorelyn, foi por sua causa que eu me libertei, não sei de onde os outros tiraram as forças ou o esclarecimento para quebrar o domínio do Lich King, mas eu tirei de você! Quase perto da data da revolta eu comecei a sonhar com você, comecei a ter lapsos de memória que aqueciam meu peito gelado, era alguém que não me lembrava completamente, mas era alguém que me queria bem, que queria o melhor pra mim, era alguém que ia toda as manhãs rezar pela minha alma. Quando despertei do laço que me ligava ao Flagelo tive minha mente de volta e com ela minhas memórias, e eu tive a certeza de que esse alguém era você.


- Mas mais importante do que tudo isso, foi a sua lembrança que me deu forças para encarar as lembranças de tudo que eu fiz durante meus anos de servidão. Foi sua lembrança que me disse que me matar não traria justiça alguma para aqueles que foram assassinados, mas lutar contra o Lich Rei, sim. E é por isso que vim a Ventobravo. Para representar os Cavaleiros da Morte perante o rei e nos oferecer como soldados da Aliança nessa luta!


E antes que eu me desse conta do que estava fazendo, já estava a poucos centímetros de distância de Lorelyn. Meu espectro de sombras e morte duelava com a aura de Luz que emanava dela e ainda assim, não conseguia me afastar, era hipnotizante.


Aproximei meu rosto do dela e pude sentir todos aqueles aromas que compunham seu perfume único, mas então ela virou o rosto.


- Eu estou apenas confusa com tudo isso. Você não imagina o quanto eu me culpo pelo que aconteceu a você... o quanto me cobro...


Eu não estava mais conseguindo resistir e não aguentaria ver mais uma lágrima escorrer por aquele rosto. Então fechei os olhos e aquele dia do solstício de verão voltou a minha mente com força, pensei naquela cena e busquei nela a coragem necessária para tocar seu rosto e para aproximá-lo do meu.


Aquilo parecia extremamente errado e ao mesmo tempo certo, como se a vida estivesse nos dando outra chance.


Quando abri os olhos percebi que minha amada também estivera de olhos fechados e tinha certeza de havíamos lembrado da mesma cena, aquilo pareceu aliviar sua expressão e mostrar a ela que nós ainda fazemos sentido um ao outro.


A Luz e a Escuridão se digladiavam à nossa volta, mas nada nos impediu, nada nos separou e por um momento o mundo inteiro sumiu e só existia eu e ela. Nossos lábios se encontraram e o que era errado se tornou certo. Peguei a mão dela e antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Lorelyn falou:


- Prometo te proteger e viver contigo a vida que o destino nos designar, meu eterno amor.

*Meses depois, após a queda do Lich Rei*


- Na verdade – disse Johan ajoelhando-se na grama – nada disso aconteceu. Quer dizer... é verdade que me libertei da dominação do Lich Rei. É verdade que participei da batalha na Capela Esperança da Luz. É verdade que o próprio Tirion me entregou uma carta para que me apresentasse ao Rei. É verdade que me hospedei em Vila d’Ouro. É até verdade que comi o cozido de Cerro Oeste.


Johan suspirou e sorriu com pesar, mas continuou.


- É verdeade que viajei até Ventobravo. É verdade que me apresentei diante do Rei Varian. E é verdade que fui até o bar “A Menina Ladina”, mas essas são as únicas verdades, porque Arwen nunca me encontrou e nem você, Lorelyn. Arwen nunca curou minhas feridas com as habilidades de uma excelente sacerdotisa, como tenho certeza que se tornaria. Arwen nunca lhe enviou um bilhete. Arwen nunca projetou um escudo de luz em mim e Arwen nunca viajou comigo para Ventobravo.


Johan abaixou a cabeça e encarou o objeto de pedra no chão verde.


- Eu inventei essa história em minha mente destruída... foi como eu imaginei que seria o nosso reencontro... como eu gostaria que tudo tivesse acontecido se vocês duas tivessem sobrevivido àquela noite. Ah! Como eu sinto sua falta. – disse enquanto colocava a mão no rosto para segurar as lágrimas que não iriam cair. – Mesmo contra todas as possibilidades dessa minha condição, eu ainda sinto... amor.



Se ainda pudesse chorar, certamente o estaria fazendo nesse momento, mas sua mão apenas abaixou para colocar uma rosa em frente a uma lápide simbólica que havia feito para Lorelyn e sua irmã no cemitério de Ventobravo.


- Lorelyn... na verdade eu achei o seu colar caído no chão de nossa antiga casa assim que despertei para essa semi-vida. Você não conseguiu fugir e me culpo por não ter aguentado... por não ter segurado aqueles monstros por mais tempo. Não encontrei você na estrada para Ventobravo tentando me matar. Você não virou marechal, embora eu tenha certeza de que se tornaria. Não tivemos aquela conversa que tanto desejei. Não senti seu rosto ou seu cheiro e nem vi sua luz brigar com a minha sombra. Não te dei mais nenhum beijo e tudo que me resta são nossas lembranças...


O céu estava azul e sol marcava o meio do dia quando o coveiro se aproximou.


- De novo aqui, senhor Johan?


- Como todos os dias, Eric. – respondeu Johan enquanto se levantava para se despedir – Minha amada Lorelyn, se em outra vida os deuses nos derem o presente que nos negaram nessa, não permitirei que nada e nem ninguém a tire de mim novamente.


Fim...

Espero, de verdade, que tenham gostado do Johan tanto quanto eu. <3

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