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A Redenção de Johan - Parte IV

** Continuação do Flashback **

- Que comece o duelo!

E eu sorri convencido.


A luta começou, ficamos por um tempo apenas ensaiando movimentos e estudando um ao outro. Ela avançou primeiro. Lógico que seria ela... eu estava confiante, mas um certo receio se instalou em mim quando o duelo começou.


Conforme a luta foi se desenrolando, eu fui recuperando a confiança e acabei percebendo que a luta estava, na verdade, bem fácil. Finalmente estava colhendo os frutos do treino incessante. Acreditei que ela pudesse estar cansada pelo duro treinamento que tivemos naquela manhã e que eu, deliberadamente, não participei.


Parecia que todas as minhas investidas eram dificilmente defendidas por ela, estava claro que ela estava cansada e se esforçava para se defender. Já as suas investidas eram fracas e sem muita vontade. Acreditei que em breve ganharia, ela se cansaria rápido, entretanto não foi o que aconteceu.


Com o passar do tempo fui percebendo que ela me levara a crer que estava fácil e começou a crescer durante nosso duelo. Aquilo me desestabilizou e quando percebi, minha mente estava vagando desesperada pensando que poderia perder minha única chance com ela. Minha breve desatenção foi o segundo suficiente para que ela atacasse e desferisse o golpe que atirou minha espada para longe.


Minha mente não pensou direito e fiz o que nunca se deve fazer em uma luta de verdade, tirei meus olhos do meu adversário, abaixando a cabeça para procurar minha espada e, Lorelyn, empoderada pelo seu treinamento e destreza, desferiu o golpe que representou minha derrota, posicionando a espada acima da minha cabeça e anunciando sua vitória.



Fiquei transtornado. Desperdicei a única chance que tive. Lorelyn atirou sua espada na grama, puxou meu queixo com seus dedos calejados e vi a vitória em seus olhos. A satisfação dela seria contagiante se a situação fosse outra e eu não estivesse tão desolado, mas então ela se aproximou e disse “Eu ganhei e, portanto, posso escolher meu prêmio!” em seguida seus lábios tocaram os meus e a única coisa que senti foi uma felicidade imensa. Enquanto ela me beijava eu conseguia ouvir os jovens da vila, que haviam se juntado ao nosso redor para assistir o duelo, comemorando.


Depois daquele duelo, tudo mudou e minha felicidade estava constantemente estampada na minha cara. Lorelyn enfim admitiu que havia percebido há algum tempo que eu era mais do que um adversário a ser vencido, mas que era divertido demais assistir eu me esforçando tanto nas aulas para ser notado.


O tempo foi passando na nossa pacata vila e havia chegado um dos dias mais esperados do ano, o solstício de verão. Embora a comemoração na vila dure a semana inteira, eu escolhi aquele dia específico para abrir meu coração por completo. A noite estava agradável, não fazia mais frio e depois de um dia inteiro de festa, danças e um banquete digno de Odyn, convidei Lorelyn para um passeio. A lua estava maravilhosa e iluminava lindamente o rosto da minha amada e mesmo com tudo acontecendo como deveria, eu estava nervoso e não sabia bem como me portar.


Paramos próximos a um lago e lá estava a Lua refletida a um mergulho de distância. Posicionei Lorelyn para que ficasse de frente para a luz e parei na sua frente. Prometi protege-la de todo o mal e pedi para que permitisse que fosse eu a pessoa que estaria ao seu lado para sempre, fosse no campo de batalha, para onde sei que ela iria sem pensar duas vezes caso necessário, ou fosse na nossa futura casa vivendo nossas vidas de forma tranquila.



Esta foi a única vez em que vi lágrimas brotando de seus olhos. Ela aceitou o anel com um enorme sorriso no seu rosto iluminado e também prometeu me proteger e viver comigo a vida que o destino nos designasse, choramos juntos e nos beijamos. O cheiro de grama molhada, o ar com aroma de verão e as estrelas nos acompanharam durante toda aquela noite... nossa noite mais especial juntos.


Depois de colocar o anel em seu dedo, Lorelyn olhou para mim como se pudesse ver minha alma e me beijou profundamente e aquela foi a nossa primeira noite juntos como noivos...

Não muito tempo depois estávamos casados e antes que pudéssemos aproveitar da vida juntos, tudo aconteceu... Arthas voltou para Lordaeron, diferente, muito diferente. Boatos começaram a correr de que ele havia matado o rei Terenas, seu próprio pai, e marchava com um exercito de mortos-vivos.


Infelizmente os boatos não vieram com a antecedência necessária e nosso vilarejo foi atacado em uma madrugada fria. Minhas lembranças desse episódio são vagas, mas sei que acordei com gritos de desespero e Lorelyn despertou igualmente espantada. Nos levantamos rápido, pegamos nossas espadas e uma camada de roupa extra para enfrentar o frio e saímos da nossa casa.



O que vimos não poderia ser descrito, era horror demais para qualquer pessoa conseguir entender. Corpos desmembrados e despedaçados cobriam as ruelas da vila, onde não tinha pedaços de corpos, o sangue lavava o chão, e soldados nunca antes vistos marchavam por elas.

O horror tomou conta de mim. Virei para Lorelyn e ordenei que fugisse, ela prontamente se recusou e disse que lutaríamos juntos, assim como tínhamos prometido um ao outro.


E teria sido o ocorrido, mas pelos deuses sua irmã estava grávida e a duas casas de distância. Então argumentei de uma forma que ela não poderia recusar “Você precisa proteger a sua irmã! Ela e o bebê precisam de você Lorelyn! Proteja a sua irmã, fujam daqui e encontrarei vocês na estrada que dá para o sul. Se em até 2 dias eu não aparecer, sigam sem mim para os reinos do sul e busque ajuda!”


Poderia jurar que era raiva que via nos olhos de Lorelyn e não desespero, como era de se imaginar. Muito contrariada ela fez o que sugeri. Dei um beijo em sua testa e eu fui enfrentar a morte certa. Lutei com tudo que podia, com tudo que aprendi, mas não foi o suficiente... uma lamina já suja com sangue de outros me perfurou pelas costas enquanto enfrentava a aberração que estava a minha frente.


Caí de joelhos com a lamina deslizando pra fora, e em meus últimos suspiros de vida desejei com toda a vontade que se pode desejar nessa situação, e roguei aos deuses num último suspiro, que ajudassem Lorelyn e Arwen a escapar.


Depois disso, era impossível eu saber o que aconteceu. Só tenho lembranças de que levantei de um túmulo com uma ordem. Uma ordem que não poderia ser ignorada e nem silenciada. Era uma ordem que imperava na minha mente, que insistia em comandar meu corpo e me impedir de pensar.


Levantei de um túmulo. Olhei e vi que alguém tinha se preocupado em me enterrar e enterrar outros que agora também levantavam de suas covas. Olhei novamente para a minha cova e notei um galho propositalmente colocado ali, nele estava pendurado o colar de miçangas de Lorelyn e antes que o chamado do Lich Rei consumisse minha consciência, eu olhei para aquele colar agora nas minhas mãos e uma lágrima escorreu pelo meu rosto enquanto eu o guardava na minha túnica.


Depois de completamente transformado em um Cavaleiro da Morte, eu passava longas horas encarando este colar sem entender a razão dele, mas nunca consegui me desfazer, sempre que pensava em joga-lo fora com a minha mente dominada, algo o empurrava pra dentro da minha armadura novamente...


** Fim do Flashback **


Enquanto eu estava maravilhado diante de Lorelyn, ainda que meu rosto não expressasse qualquer emoção, o dela expressava até demais. Percebi que logo após o espanto, veio a repulsa e aquilo se fez sentir dentro de mim ainda mais do que a alegria que segundos antes havia habitado meu peito.


Sem que eu pudesse processar tudo que estava acontecendo, ela rugiu novamente e partiu mais uma vez na minha direção com sua espada:


- Você não é o meu marido!!! Meu marido morreu, eu mesma o enterrei, e você vai pagar com a morte pelo que se tornou! – dizia enquanto o grito se transformava em soluços.


Minhas espadas estavam nas minhas mãos, que jaziam inertes. Eu não queria me mexer. Se era aquilo que me aguardava, se era aquilo pelo qual tanto esperei, eu não queria mais. Que minha alma descansasse em paz, finalmente. Pedia perdão mentalmente as milhares de pessoas que jurei vingar quando matasse o Lich Rei, não poderia mais honrar minha promessa. Era o que eu pensava quando abaixei a cabeça aceitando de bom grado o golpe fatal.


- Que o golpe final venha então da sua espada, Lorelyn, como daquela vez.


Continua...

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