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A Redenção de Johan - Parte III

Começamos nossa cavalgada tranquila até a rota para Ventobravo quando algo me chamou a atenção, quase no fim do alcance da vista havia um cavaleiro montado que pareceu notar minha presença assim que notei a dele. Ele então deu início ao galope com o seu cavalo na minha direção. A sensação voltou mais forte e então eu soube que era aquilo a que sensação se referia e que não iria acabar bem.


Em condições normais eu teria partido para a batalha também, mas aquela sensação nova que pulsava no fundo do meu peito não ajudava, não sabia como agir. Minha mente trabalhava como se nova lenha fosse atirada ao fogo, eu tentava pensar rápido como fiz inúmeras vezes no campo de batalha, mas era como se qualquer ação que eu fizesse, qualquer medida que eu tomasse fosse errada, e enquanto eu tentava comandar meu corpo o cavaleiro gritou:


- Então os boatos eram verdadeiros! Prepare-se para morrer Cavaleiro da Morte, seu legado de destruição termina aqui!


Era uma mulher! E a julgar pela armadura que brilhava sob a luz da lua, parecia de um alto escalão. Com certeza alguém que eu não gostaria de enfrentar e matar, estando prestes a ir oferecer meus serviços à Aliança, mas ela não parecia me deixar escolha.


Saquei minhas espadas enquanto ela vinha correndo na minha direção com sua lâmina também em punho. Eu lutava com a sensação que continuava dentro de mim e que dessa vez queria me impedir de atacar. Mesmo assim não hesitei, não poderia deixar essas sensações vencerem ou isso poderia acabar me matando.


Ergui minhas espadas enquanto a amazona avançava na minha direção segurando sua longa espada com as duas mãos acima da cabeça. Eu estava preparado para atacar, visualizei o abdômen desprotegido e sabia que seria uma vitória rápida e fácil. Talvez até pudesse chegar a Ventobravo antes da notícia do assassinato de um dos seus.


Os sons da sua armadura tilintando e do cavalo em galope ficaram mais altos e amedrontadores conforme ela ia se aproximando mais, rugindo e me amaldiçoando. Me dei conta de que não conseguia me mexer, meu corpo não obedecia minha mente e antes que eu fosse tomado pelo desespero, um grito de longe ecoou pela clareira:


- Nãaaaaaaaaaao!


Uma luz brilhou e fui atirado do meu cavalo, atingindo fortemente o chão com as costas.



Eu tinha certeza de que a espada, do que agora eu julgava ser uma paladina, havia me acertado em cheio e ainda assim eu parecia bem, não havia corte aparente. As coisas começavam fazer sentido de novo e a imagem começava a se focar enquanto me levantava e percebi que duas mulheres discutiam.


- Arwen! O que você fez? Ele não é um de nós! É um Cavaleiro da Morte, pertencente ao Flagelo e escravo do Lich Rei. Eu estava prestes a mata-lo e você o protege com o seu escudo de Luz? – brandia a paladina – Você ficou louca?


- Lorelyn! – apelou a sacerdotisa – Você não sabe o que está fazendo! Ele não é qualquer Cavaleiro da Morte! É Johan!!! Não poderia deixar vocês lutarem! – e então meu mundo desabou. Eu não sentia mais o chão, não sentia mais o ar... a lua... a noite...


Foi necessário um esforço sobre humano para manter minha mente trabalhando e fazer com que as palavras fizessem sentido. Fiquei de pé, encarando Lorelyn e ela, tão atordoada quanto eu, desceu do cavalo e me olhou enquanto Arwen vinha correndo em nossa direção.


- Lorelyn, fui eu quem mandou o bilhete para você, mas você certamente não o leu por completo, apenas viu as palavras Vila D'Ouro e Cavaleiro da Morte! – explicou Arwen entre um folego e outro.


Lorelyn... era a minha Lorelyn que estava ali. Eu não conseguia descrever o que estava sentindo e, para minha surpresa, foi muito mais do que havia previsto. Era como se estivesse vivo novamente, meu peito parecia pegar fogo e, como se nunca tivesse sentido tanta felicidade... afinal, fazia muito tempo que não sabia o que era isso...


Anos atrás


Lorelyn e eu éramos jovens... crescemos na mesma pequena vila no reino de Lordaeron. Ela era a menina mais bonita da vila, pelo menos para mim. Arwen, sua irmã, era, na verdade, quem costumava arrancar suspiros dos garotos, mas eu só tinha olhos para Lorelyn e sua disciplina. “Vou ser a melhor guerreira de Lordaeron!” era o que ela costumava dizer.


A verdade é que eu só me inscrevia para participar dos treinamentos com guerreiros voluntários que constantemente passavam pela nossa vila para estar perto dela. Tive que treinar duro, só assim para conseguir acompanha-la. Ela era muito dedicada e extremamente esforçada, se empenhava ao máximo em cada aula e em cada atividade proposta pelos instrutores.


Não foi difícil para ela se destacar e eu sabia que também só apareceria se fosse um oponente a altura nos treinamentos. Achei que era a única forma dela me notar. Fomos crescendo e eu acabei por adquirir uma maior massa muscular, até que um dia eu finalmente a derrotei no treinamento. Me tornei um alvo, ela se deu ao trabalho de decorar meu nome e começou a me observar pra todo lugar que eu ia, não com o tipo de olhar que eu gostaria, estava mais para um olhar de ódio e uma promessa de vingança, mas aquilo me divertiu, afinal eu tinha atingido meu objetivo, ela enfim me notara.


Tornei-me amigo de Arwen primeiro, justamente porque a irmã me usava para lembrar constantemente Lorelyn de que ela finalmente havia perdido uma luta e também porque aparentemente um garoto havia despertado o interesse de Arwen (a garota mais cobiçada da vila), que por coincidência, era meu amigo, Mathias.


Arwen estava sempre por perto quando treinávamos e no fim de cada dia nos convidava para nos reunirmos na frente de sua casa. Fazíamos uma fogueira e assávamos as caças do dia. O que Arwen queria mesmo era a companhia do meu amigo, mas felizmente tinha vergonha de convidar apenas ele, e eu sempre aceitava o convite por razões obvias, até que Lorelyn não conseguia mais escapar de mim, eu estava em todos os lugares para onde ela ia e em todos os lugares para o qual ela olhava. A satisfação vivia estampada na minha cara.


É verdade que eu só tinha ganhado uma vez de Lorelyn nos treinos, mas eu tinha me esforçado muito ultimamente e estava confiante com as minhas habilidades, então resolvi que iria desafiar a mais habilidosa guerreira da vila para um duelo com espadas. Ela olhou debochando de mim e questionou a razão da luta, e foi então que eu respondi: “Se eu ganhar, você me dará a honra de sair um dia comigo, como... como um encontro!”.


Ela imediatamente arregalou os olhos espantada, mas logo em seguida seu rosto adquiriu uma expressão maliciosa e então me respondeu: “E se eu ganhar... hum... acho que vou decidir somente depois que ganhar!”.


Eu nem pensei que aquilo não era justo e que poderia estar me enfiando em uma situação complicada. Eu estava tão certo de que ganharia e finalmente teria um encontro com ela, que aceitei naquele instante e fomos prontamente pegar nossas espadas de treino. Elegemos um colega que julgamos ser imparcial para decidir quando o primeiro desse o golpe que seria o fatal e, consequentemente, quem sairia vencedor.


Andamos até o círculo de terra nos encarando e o recém eleito juiz, gritou:


- Que comece o duelo!


E eu sorri convencido.


Continua...

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